terça-feira, 10 de junho de 2008

Um grito silencioso

Faço verso, escrevo prosa
Falo da vida, do meio
Da terra que a gente vive
Que agora está sofrendo
Os bichos todos morrendo
Queimados ou se extingüindo
É a natureza gemendo
E o homem contribuindo.
A vida de uma espécie
Dinheiro nenhum não paga
POETA ASSIM COMO EU
É FOGO QUE NÃO SE APAGA.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Irônica

Agora eu vou ironizar. Não aquelas ironias super radicais que estamos acostumados a escutar de um amigo ou amiga próximos. Muito menos a ironia prima da maiêutica; aquela originada do método socrático...
A ironia a qual me refiro é aquela figura de linguagem (repito, não tão radical) que nos deixa em uma posição um pouco constrangedora diante de determinada situação. Você já foi vítima de uma brincadeira irônica? Se a resposta for sim certamente você ficara se perguntando o porquê daquela ironia direcionada a você. É justamente este o mal sofrido por nós: ficamos perdendo muito tempo imaginando o que essa terceira pessoa quis (ou quer) nos dizer. Já imaginou se o tempo perdido por nós tentando decifrar o que alguém quis nos dizer através de uma ironia fosse investido em alguma outra coisa realmente necessária para nós, além dessa curiosidade com um toque de perda de tempo?
Eu quero chegar em um assunto que toma um caminho parecido com essa afirmação que fiz nos parágrafos anteriores. É justamente o que nos faz perder tanto tempo em nossa vida. Vamos deixar de perder tanto tempo assim. Acredito que nossa vida é tão simples de ser organizada. Ao invés de ficar pensando "o que ele (a) quis me dizer", pergunte ao próprio. O risco de perder uma amizade não é maior por isso. Pelo contrário: se uma pergunta é feita a uma pessoa que você considera sua amiga e se nota a infidelidade da resposta, no mínimo não se pode ter essa pessoa com amigo (a), de fato. Vamos aproveitar nosso tempo para fazer coisas boas, proveitáveis para si próprios e para os outros, indiretamente, também.

O dia que o satanás dançou a dança do creu

Sempre dei muito valor
Ao que é da minha terra
Sou pernambucano nato
Moro bem antes da serra
Vitória de Santo Antão
Onde minha raiz se enterra

Canto pra o meu folclore
Pr’ as coisas lindas que há
Nada se compara ao frevo
A dança que nasceu cá
Minha terra tem os mangues
E os caranguejos tão lá

Mas deixando Pernambuco
Quietinho em seu lugar
Vou contar para vocês
Uma estória que nasceu cá
Em Vitória de Santo Antão
O meu querido lugar

Quem quiser achar verdade
Este conto tão pinel
Tenha atenção e leia
Com atenção o papel
“O dia que o satanás
Dançou a dança do creu”

Existia uma pessoa
Que era o cão em forma de gente
Nora do Seu Clementino
Esposa do Seu Clemente
Que o povo a apelidou
Dona Maria Demente

Mas dona Maria Demente
Dementeza tinha nada
Ela era muito da esperta
De esperteza intocada
Até hoje em me pergunto:
Como ela era casada?

É do tipo de mulher
Que não quer um homem só
Nos chifres do Seu Clemente
Já ramou até cipó
De tanto homem que a esposa
Já tinha arrochado o nó

Mas aí a dementeza
É toda do seu marido
Que até café na cama
Servia pros escondidos
Que ficavam só esperando
O café do corno querido

Acontece que a Maria
Fazia um catimbozinho
E enquanto os fregueses ficam
Esperando a vez num quartinho
O corno, de banco em banco
Servia o cafezinho

O que o corno em momento algum
Nem sequer se perguntava
O porquê que a freguesia
Que Maria conquistava
Só havia cabra homem
Que a cada dia aumentava

Você deve estar perguntando
Onde é que o diabo entra
Nessa história tão adúltera
Que só gaia se comenta?
Tenha calma, devagar
Essa estória se assenta

Pois certo dia o marido
Seu Clemente, deparou-se
C’ uma cena tão estranha
Que logo que viu, sentou-se
Se tratava de Maria
Nua na frente de doze

Maria Demente até
Tentou se sobressair
Disse: ó, meu Clementinho
Foi o caboco me possuir
Pra eu me sair de mim
E os home querer me despir

Clemente disse: mulé
Ta querendo tapiar?
Mesmo que fosse um caboco
No teu coro a atazanar
Nunca vi caboco fresco
Em gente manifestar

Só sei que na confusão
Doze saíram correndo
Seu Clemente ainda deixou
Uns quatro cabras gemendo
Com facada pelo bucho
Pense num ódio tremendo

Seu Clemente ainda disse
Depois que um tempo passou:
-Maria é mulé bonita
Só num soube dar valor
Ao casamento que tinha
Com esse corno que eu sou

-Todos homens que eu conheço
E quem sabe até mais
Me botaram um par de chifres
É gaia que num acaba mais
Agora só o que me falta
É gaia do satanás

O único ser masculino
De Vitória ao sertão
E que não me botou gaia
Nesse pedaço de chão
É o próprio sete peles
O próprio diabo, o cão!

Quando acabou de dizer
Tamanha barbaridade
Uma sombra bem obscura
Pairou sobre a cidade
E tudo se escureceu
Em tremenda velocidade

Vocês não fazem idéia
De quem surgiu no susto
Uma criatura horrível
Fedendo, pôde de sujo
Com uma besta de lado:
Isso mesmo! O dito cujo!

O diabo em forma de gente
Um discurso logo fez:
-Pr’ aqueles que me conhecem
Pra quem quer ser meu freguês
Eis aqui quem apareceu
Diante de todos vocês

-Só vim porque me invocaram
E porque fiquei ciente
Que aqui há uma pessoa
Que sou eu em forma de gente
Trata-se de uma mulher
Dona Maria Demente

Quando o diabo disse isso
Um cabra disse: é besteira
Como é que o próprio cão
Diz toda essa asneira?
Esse ta mais parecendo
Com um pinguço de feira!

Enfurecido de raiva
O Senhor do mal então
Apontou para o sujeito
Levantou uma das mãos
E um enorme buraco
Fez aparecer no chão

Nunca mais verás o Sol
Ou a chuva do inverno
Ma tu viveram com frio
No meio de um calor eterno
Seja bem vindo ao meu lar
Vá pro quinto dos infernos!

Esse sujeito sumiu
E o diabo, já fumaçando
Disse: quero Maria Demente
Dessa vez não to brincando
Quero que um homem desses
Traga ela aqui, voando!

Num deu um minuto não
Maria já tava lá
É que os cabras todos com medo
De no inferno ir parar
Se espalharam na cidade
Pra Maria logo encontrar

Maria Demente disse:
Ó, senhor das malvadezas
O que queres tu de mim
Mulher simples, sem nobreza
Que errou tanto nessa vida
Traindo com tanta destreza?

O cão disse: tá faltando
Mulher assim no inferno
Por isso vim te buscar
Pra ocupar o trono eterno
Sentada bem do meu lado
Governando o inferno

Dona Maria Demente
Não podia dizer não
Se ela negasse o convite
Tava feita a confusão
Estão com sua esperteza
Pensou numa solução

Pra provar que me merece
O Senhor vai me provar
Que homem igual ao senhor
Nesse pedaço não há
O que eu vou pedir ao senhor
É fácil de realizar

O diabo disse se rindo:
Sou movido à adrenalina
Não há nada que me faça
Sair do ritmo da rima
Com o único que eu não posso
É com aquele lá de cima

O que o senhor vai fazer
Não precisa de papel
Só basta que alguém peça
O radio do Seu Manoel
Quero ver o senhor dançando
A nova dança do creu

Se provar que é capaz
Dessa dança executar
Faço minhas malas na hora
Pra com o senhor viajar
Pra o quinto dos infernos
Se assim o desejar

E não é que o diabo
O desafio aceitou
Botou o som pra tocar
E o que mais impressionou
Até a velocidade dez
O mizerave dançou

Então Maria Demente
Foi levada e nem ficou
Nem rastro pra onde ela
O satanás a levou
Pode ter ido pro inferno
Isso ninguém comprovou

Maria ficou conhecida
A mulher das bandas de cá
Que fez o inesperado
Difícil de acreditar
A nova dança do creu
Fez o satanás dançar.